Fibromialgia
A fibromialgia é uma condição complexa que desafia tanto pacientes quanto profissionais de saúde. Caracteriza-se por dores musculares difusas, fadiga persistente, distúrbios do sono e sensibilidade aumentada ao toque. O que intriga muitas pessoas é o fato de os exames laboratoriais e de imagem frequentemente apresentarem resultados normais, o que pode gerar dúvidas sobre a veracidade da dor. No entanto, a ciência tem demonstrado que a dor da fibromialgia é absolutamente real e resulta de alterações específicas no funcionamento do sistema nervoso central.
Pesquisas recentes indicam que, em pacientes com fibromialgia, há uma disfunção na forma como o cérebro e a medula espinhal processam os sinais de dor. Essa condição é conhecida como sensibilização central, na qual os neurônios tornam-se hiperativos, amplificando estímulos que normalmente não causariam dor. Assim, um leve toque ou uma pequena pressão podem ser percebidos como intensamente dolorosos. De acordo com a Clínica Mayo, essa resposta exacerbada está relacionada a alterações nos neurotransmissores e nos receptores cerebrais que modulam a dor, como a serotonina, a dopamina e a substância P.
A ausência de alterações em exames tradicionais não significa ausência de doença. A fibromialgia não causa inflamação nem lesões estruturais detectáveis por ressonância magnética ou exames de sangue. O problema está na forma como o corpo interpreta os sinais nervosos, e não nos tecidos ou órgãos em si. Isso explica por que marcadores inflamatórios, como a proteína C reativa, permanecem dentro da normalidade. Trata-se, portanto, de uma condição funcional, em que o sistema nervoso está “fora de sintonia”, mas não danificado.
Diversos fatores podem contribuir para o surgimento ou agravamento da fibromialgia, incluindo estresse crônico, traumas físicos ou emocionais, infecções e distúrbios do sono. Estudos publicados na Pain Research and Treatment Journal apontam que o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal — responsável pela resposta ao estresse — apresenta desequilíbrios em pacientes com a síndrome, o que altera os níveis de cortisol e aumenta a sensibilidade à dor. Além disso, aspectos emocionais como ansiedade e depressão não são causas, mas consequências e amplificadores da dor, reforçando a necessidade de uma abordagem multidisciplinar que envolva corpo e mente.
Embora não existam exames específicos para diagnosticar a fibromialgia, critérios clínicos estabelecidos pelo American College of Rheumatology — baseados em pontos de dor e sintomas associados — ajudam os médicos a identificar o quadro com precisão. O tratamento envolve uma combinação de medicamentos, exercícios físicos graduais, fisioterapia, psicoterapia e técnicas de relaxamento. Estratégias como o mindfulness e a terapia cognitivo-comportamental têm mostrado bons resultados na regulação da percepção da dor e na melhora da qualidade de vida.
A fibromialgia é uma condição real e reconhecida cientificamente. O fato de não haver alterações visíveis em exames não diminui a legitimidade da dor sentida pelos pacientes. Trata-se de um distúrbio neurológico que exige compreensão, diagnóstico criterioso e tratamento contínuo. Reconhecer a fibromialgia como uma dor legítima é um passo essencial para combater o estigma e garantir um cuidado mais humano e eficaz.